sábado, 4 de setembro de 2010

Interlúdio e Entreatos: A avenida Iluminada

Seguem pelo mesmo caminho duas pessoas distintas, porém com o mesmo objetivo final, conversam, riem, andam trôpegos, trocam sorrisos. A luz das arandelas nos postes, distorce as sombras dos dois, tornando-as maiores e fazendo-os serem iguais. Dois iguais caminham, mesmo objetivo, mesmas sombras, mesma ternura? Não se sabe.

Seguem até onde deve-se esperar, pela última carruagem do destino, a noite ainda é uma criança, mas de certo eles precisam voltar aos seus refúgios, a noite traz consigo perigos escondidos e as velhas necessidades do corpo. Um toca o outro, em seu ombro a mão de um faz morada, olhares dissipam-se em camadas, alçam vôos as imaginações, uma música tênue ainda pode ser escutada... Memórias de um tempo que já passou, sem dúvida, mas que ainda não morreu. Ambos se abraçam, o coche havia chegado...

O que era um duplo mural, se torna uma pintura fosca de um único instante, um retrato impressionista da luz e das sombras que antes os envolviam e agora não mais. A luz os separa, rasga-os em pedaços distintos novamente e assim a crueldade do frio noturno, assola mais a um do que ao outro. Não há respostas. Não há sons. Não há mais música.

A chama fria que queimava nos olhos de um deles, se extingue quase que completamente, sendo então absorvido pelas sombras que o cerca, na tentativa de tornar a ele mais completo, quanto era a minutos atrás do outro, houve-se apenas o adeus e uma bênção antiga. Nada mais.

Infinitesimal era a profundidade do mar de sombras onde um se lançou, e jaz inócuo ali, esperando... Para na manhã seguinte acordar e ainda tentar lembrar. De quão diabólica a solidão pode ser, e de quão distinto do outro ainda se pode ser... No meio de todas as sequelas da noite anterior... A chama, que descança na pira do Ego, queima e diz suavemente, a palavra da qual se desejou muitas vezes esquecer: Paixão.

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