terça-feira, 7 de setembro de 2010

Capítulo 5 - Escuridão e Asfixia




Amigas desde a infância, Escuridão brincava sempre com Asfixia, e aqui tornam-se entidades pelo emprego de maisculas em seus nomes, representam de igual pra igual sensações.


Sem visão e nem voz, nosso protagonista arrasta-se, busca fôlego, tenta cantar, nada.
uma manifestação da noite em sua visão, uma corda em sua garganta. Convulsiona, luta e morre.
Uma mulher esbelta, cujo batom é de um vermelho violência, e cujas roupas são bem ajustadas em seu corpo e de cor branca, guia setenta e cinco pequenas criaturas a uma saleta de espera, ela volta amuada, encara o nosso protagonista (cujo rosto lembra muito o de alguém que já encontrara antes) e leva as outras vinte e cinco pequeninas pessoas (e de aspecto pior das anteriores) a uma outra saleta. Nosso protagonista, ainda inerte em um sofá aveludado, baba entredentes e murmura cinco vezes um nome, a Morte, cansada de folgados como aquele, decide a plenas risadas que além de já ter o visto antes, não era a hora dele...

Dor, Ardência, Fogo... Goladas de ar inexistentes, luz atravessando grossas camadas de fuligem, não, sombras... Luz penetrando sombras... Um baque surdo no chão duro de azulejos. Asfixia se contorce de agonia, Escuridão se retira com medo de que a luz a cegue ou a destrua, nosso protagonista levanta-se, procura a corda metafórica em seu pescoço e a arrebenta. Sem mais necessidade disso ele diz Saiam, fujam, corram e desapareçam grita para Escuridão e Asfixia, sonhara que tinha morrido, encontrado com Deus e a Morte, na verdade na noite que se passara também havia sonhado, sonhara que seu corpo incendiara e para apagar as chamas lançava-se ao mar, ilusão, talvez, mas uma fina linha escura que percorria o seu peito e traçava espirais em torno do coração o contradiziam. Infelizmente ele não enchergara a si em um espelho...

Evocaste-me, uma voz, vinda de lugar nenhum, sugere. Quem és tu? Indaga o protagonista. A voz por vez responde deliciada: Sou tu, e tu sou eu, ambos somos um e desse um, somos milhares e ainda assim, uno somos. Mas o que importa é o fato de teres me evocado. Se o nome que chamou não te pertence, por que usaste? Vim dar-te minha ajuda e minha sabedoria.

A voz fantasmagórica manifesta-se em camadas de alegoria, nosso protagonista então entende o por que e as inúmeras razões de ele então ser e existir, mas tais explicações não chegam de fato a algum lugar e o Personagem, já estafado de tantas incursões metafísicas, chega a única conclusão real. Necessita fazer alguma coisa. e alguma coisa deve ser feita, mas nada em exageros ou em dramas novelescos.

Sua ação rapidamente é tomada como satisfatória, e a voz espectral fenece como se nunca tivera existido. Nosso protagonista, arrebatado pelo conhecimento, dirige-se a seu lugar de repouso e simplesmente volta a dormir.





Eis que sonha o Sonhador, e dorme o Adormecido... Em cântaros suas lágrimas abastecem o bálsamo daqueles que sentem dor, e em seus sonhos tudo é possível.
Porém sua voz permanece Calada

sábado, 4 de setembro de 2010

Interlúdio e Entreatos: A avenida Iluminada

Seguem pelo mesmo caminho duas pessoas distintas, porém com o mesmo objetivo final, conversam, riem, andam trôpegos, trocam sorrisos. A luz das arandelas nos postes, distorce as sombras dos dois, tornando-as maiores e fazendo-os serem iguais. Dois iguais caminham, mesmo objetivo, mesmas sombras, mesma ternura? Não se sabe.

Seguem até onde deve-se esperar, pela última carruagem do destino, a noite ainda é uma criança, mas de certo eles precisam voltar aos seus refúgios, a noite traz consigo perigos escondidos e as velhas necessidades do corpo. Um toca o outro, em seu ombro a mão de um faz morada, olhares dissipam-se em camadas, alçam vôos as imaginações, uma música tênue ainda pode ser escutada... Memórias de um tempo que já passou, sem dúvida, mas que ainda não morreu. Ambos se abraçam, o coche havia chegado...

O que era um duplo mural, se torna uma pintura fosca de um único instante, um retrato impressionista da luz e das sombras que antes os envolviam e agora não mais. A luz os separa, rasga-os em pedaços distintos novamente e assim a crueldade do frio noturno, assola mais a um do que ao outro. Não há respostas. Não há sons. Não há mais música.

A chama fria que queimava nos olhos de um deles, se extingue quase que completamente, sendo então absorvido pelas sombras que o cerca, na tentativa de tornar a ele mais completo, quanto era a minutos atrás do outro, houve-se apenas o adeus e uma bênção antiga. Nada mais.

Infinitesimal era a profundidade do mar de sombras onde um se lançou, e jaz inócuo ali, esperando... Para na manhã seguinte acordar e ainda tentar lembrar. De quão diabólica a solidão pode ser, e de quão distinto do outro ainda se pode ser... No meio de todas as sequelas da noite anterior... A chama, que descança na pira do Ego, queima e diz suavemente, a palavra da qual se desejou muitas vezes esquecer: Paixão.